Entrevistas

Bi Ribeiro – Os graves e os grooves mais marcantes do rock brasileiro

NESM Entrevista – Bi Ribeiro

Texto: Ricardo Vital

Fotos: Leandro Almeida

Os Paralamas sem dúvida estão entre os maiores representantes do rock brasileiro, principalmente pensando na geração que começou nos anos 80, tendo definido uma forte personalidade musical, miscigenada como uma Lourinha Bombril ou um Häagen-Dazs de mangaba. Tem rock de várias épocas, tem música brasileira, tem reggae e tem ritmos caribenhos e africanos, e Bi Ribeiro fala bastante sobre estas influências na entrevista a seguir.

Em 12 de janeiro estive presente na primeira noite da mini-temporada dos Paralamas no Sesc Pompéia, em São Paulo, e na semana seguinte entrevistei o baixista dos Paralamas por telefone, num animado bate-papo de quase uma hora. Além de discorrer sobre influências e de dar preciosos detalhes sobre seus instrumentos de trabalho (que formam uma verdadeira coleção), Bi falou sobre a formação dos Paralamas, seu papel de elo na banda, a experiência no Rock’n’Rio, o lado crítico e politizado da banda e sua adaptação (ou não) às novas tecnologias e suportes de mídia do mercado musical.

Então sente, pegue um copo da bebida que mais lhe aprouver, coloque seu disco preferido dos Paralamas pra tocar e deguste esta saborosa conversa com um dos heróis do rock brasileiro!

Bi, estive presente no show do Sesc (clique para ler a cobertura) na quinta-feira (12 de Janeiro), até tiramos uma foto juntos no final…

Sim, claro, eu vi você do palco, na plateia, você tava assim bem na minha frente.

Tava mesmo, e fiquei bastante emocionado. Tenho uma ligação musical afetiva muito grande com os Paralamas, e ver vocês ali de pertinho foi uma oportunidade incrível. O público adorou o show; o que você achou do show, do público?

A gente verificou assim que é um público diferente mesmo, né? É um público muito diverso, não é o público assim que a gente tá acostumado a tocar, em casas fechadas. Porque a gente também faz eventos de prefeituras, e aí vai todo tipo de gente, faz eventualmente festas de exposição de gado, então vai outro tipo de gente, mas ali pra São Paulo tivemos também um público muito diverso, algumas pessoas mais idosas, e gente que você via que não tá acostumado a ver show dos Paralamas.

Porque tem uns shows que a gente faz e vão aqueles fãs que já sabem o que a gente vai fazer, mais ou menos fica uma coisa mais previsível, e a gente verificou que a gente tava mostrando coisas assim que eles não esperavam, naquele momento. Então foi muito interessante, muito legal, proveitoso, e a gente adorou o espaço, o som tava muito bom…

Bi ao centro, entre os amigos Barone e Herbert, ao final do show de janeiro de 2017 no Sesc Pompéia

Muito bacana, o Sesc é realmente um espaço que costuma oferecer espaço e infra-estrutura pros artistas e programação de qualidade pro público, sem dúvida um dos mais importantes centros culturais de São Paulo.

Poxa, é uma iniciativa maravilhosa, sensacional mesmo.

Eu vi que no meio do show você trocou de instrumento, começou com um Factor laranja e depois mudou pro vermelho, que foi o seu primeiro Factor, né?

O vermelho é o primeiro, é… o primeiro Factor.

Eu estava pesquisando sobre seu histórico de instrumentos, o primeiro foi um japonês que você comprou em Londres, né?

Exato. Exatamente, quando eu fui pra… eu tinha uns amigos, uns parentes e uns amigos morando na Europa, aí meu pai arrumou esta passagem pra mim e eu passei 3 meses na Europa, entre meus 16 e 17 anos. E foi uma oportunidade maravilhosa, de viver outro país, outros países né, que eu andei em alguns. E aproveitei e comprei com o pouco dinheiro que eu tinha, consegui comprar na Inglaterra, como é um país que tem muita coisa de música…

É como hoje em dia, que tem uma diversidade de preços muito grande, aqui no Brasil, pra você comprar um instrumento era uma coisa assim de outro mundo. Caríssimos, e pouca oferta, muito difícil. Lá na Inglaterra tinha um instrumento muito barato, japonês, da marca CNI, um baixo assim que seria como se fosse um Jazz Bass, porém menor, ele era um pouco menor, tinha uma escala menor. Aí depois meu pai foi morar no Chile, em 1981, e aí eu comprei o Fender, o Precision, que eu tenho até hoje?

É o que está no estúdio do Dado (Villa-Lobos)?

Exatamente, mas agora já está comigo de novo! (risos). Pô, você sabia que tava com ele?!

É, eu li numa entrevista dele de 2014 onde ele contava que tava com este seu baixo, que sempre que te via, avisava que ele tava lá…

Aí eu pedi pra ele, a gente andou fazendo uns shows de trio, só nós três, Paralamas, e eu peguei este Precision pra usá-lo – acabei não usando. Mas peguei pra isso, pedi de volta, fiz uns ensaios e acabei não usando. Usei outros. Mas aí ficou comigo de volta, então toda vez que eu encontro com o Dado ele fala: Olha só, os baixistas estão sentindo falta do seu baixo, todo mundo pede ele pra gravar, porque é um baixo muito bom, mesmo. E tava lá disponível pra quem fosse gravar lá no estúdio do Dado, agora ele quem fica me cobrando de volta.

E qual foi o percurso que você fez do Precision até chegar no Factor?

É eu tenho vários instrumentos, a história foi assim, arrumei este Precision, aí comecei a tocar, gravei o primeiro disco… (tentando lembrar). É, gravei o primeiro disco, aí aconteceu uma coisa… Tinha aquele negócio uma época, era ali mais ou menos 82 (1982), 83! 83, nosso primeiro ano juntos, primeiro ano que  agente tava por aqui, primeiro disco, e apareceu uma oportunidade, naquela época tinha um negócio que você podia vender o seu direito de comprar 1000 dólares. Uma coisa assim. Então, nesta transação, você conseguia umas passagens assim por 50 dólares. Você abrindo mão do seu direito de comprar 1000 dólares, entendeu, era uma jogada que tinha.

E aí a empresária do Lobão, junto com o nosso empresário, o Zé, que trabalhava no mesmo escritório, conseguiu fazer um pacotão assim pra gente tocar em Nova Iorque, em 1983. Danceteria, que era um lugar na época bastante conhecido. Aí o Lobão fez uma noite e os Paralamas outra noite. Inclusive o baterista do Lobão, que é meio americano, tinha um problema de visto, não conseguiu ir, o João Barone fez com as duas bandas. E nesta oportunidade, eu cheguei lá e, influenciado pelo Liminha, que usava um baixo Alembic aqui (no Brasil), com o Lulu Santos e não sei quem mais, eu achei um Alembic usado e comprei. Aí trouxe o Alembic. Aí eu gravei o segundo disco com o Alembic, fui tocando com ele e tal, até uma outra oportunidade em que eu fui pros EUA e comprei um Steinberger.

Ah não, antes disso teve outra coisa! Antes do Rock in Rio a gente foi pra lá também, comprar instrumentos, e eu trouxe um outro baixo que chama Ken Smith. Conhece? É um de luthier, uma marca muito pequena, mas era um baixo bom. Tá aqui comigo, ainda. Mas logo depois eu comprei um Steinberger e me apaixonei, cara. O Steinberger é maravilhoso, um baixo sensacional, e usei durante um tempo, gravei o Selvagem com ele. E logo em seguida, em 86, a gente foi tocar no 7 de Setembro em Nova York, e chegando lá eu falei eu vou comprar um Steinberger, porque é este baixo que eu gosto pra caramba e tal, quando eu cheguei lá eu dei de cara com este Factor aí. E aí eu comprei o Factor, e aí nunca mais parei de usar.

Close do baixo de Bi Ribeiro
Um close caprichado do primeiro baixo Factor de Bi Ribeiro, um dos mais icônicos instrumentos do Rock Brasileiro

E porque você optou ali por ele, foi paixão à primeira vista, tocou e gamou?

Foi o Herbert que me chamou, eu tava numa loja do outro lado da rua, o Herbert falou Vem cá, vem ver o que tem aqui, é o baixo que o John Taylor, do Duran Duran, usava – quer dizer, isso também não quer dizer nada, mas é que eu já conhecia, né? Mas na hora que eu peguei ele, aquele baixo tem um grave… danado, e eu gostava disso, gosto. E eu me encantei, me encantei por ele e eu levei baixo, amplificador e tudo, todo o sistema que eu tinha testado ali (risos).

Que era um sistema Seymour Duncan, o amplificador e as caixas, eu nunca mais vi esta amplificação. Neste dia tinha e eu levei tudo, levei o som que eu vi ali acontecendo. Só que daí eu comecei a usar Factor, depois eu tive outro, e aí foi vindo, eu tenho aqui comigo agora 5, mas um é do Nando Reis, deixou comigo, tá comigo há anos, mas um é dele.  Um meio vinho, eu não tenho usado muito, mas é um Factor idêntico aos outros.

Fora os Factor, quantos baixos você tem ao total, hoje em dia?

Eu tenho uns 20, além destes 5 Factor eu tenho o Precision, o Ken Smith, o Alembic, 2 Steinberger, um Hofner e um Hofner Epiphone (Viola Bass Epiphone), um Dan Armstrong Ampeg, sabe qual é?

Um transparente, né?

Isso, o transparente. Eu tinha dois, me roubaram um. Tenho um baixo japonês que eu comprei em Los Angeles com formato de Gibson Les Paul e eu não gosto, esqueci até o nome dele. É um baixo caro e nunca usei ele, nunca gostei. Que mais que eu tenho… Tenho um Jazz Bass… Tem uns que estão com meu irmão em Porto Alegre, que são o Jazz Bass, um Precision Special que tem assim a mão vermelha, ele é meio perolado, um vermelho diferente, e é ativo, um baixo do começo dos anos 80. Por aí, estes aí.

Ah, e tem outro que eu tenho usado nos shows também, principalmente em trio, que é o Warwick, e a característica diferente dele é que ele é passivo, normalmente os Warwick são ativos, né? E eu gosto muito de baixo ativo, os Factor tem DUAS baterias, é 18 volts. Eu continuo usando o primeiro, fez 30 anos o ano passado, cara. 30 anos que eu uso ele, 30 anos (risos).

Muito bacana! Não tem medo de roubarem?

Às vezes até penso, pô, devia guardar ele, porque vai que quebra, roubam, some, eu ia ficar muito chateado. Mas poxa, eu acho que você tem que estar ali no palco, fazendo seu lance, com o melhor que você tem, com o que você mais gosta, e se tiver que acontecer alguma coisa, aconteceu. Se eu ficar guardando aí, pô, tenho meu baixo, tá guardado há 20 anos, mas é o que eu mais gosto, de que adianta? Então eu prefiro estar com ele, junto comigo, e se tiver que acontecer alguma coisa, aconteceu.

Se tiver que acontecer alguma coisa, você aproveitou ele ao máximo.

Exatamente, até o fim, aproveitei muito, exatamente isso (risos). Já usei muito, já troquei trastes, porque gastou.

E no show de quinta, porque você trocou de instrumento no meio do show, alguma questão de afinação diferente, timbre…?

Este que você chamou de laranja, ele é cor de madeira, uma madeira meio avermelhada mesmo, é o último que eu comprei, e o Philip Kubicki, que é o cara que faz este baixo, tinha morrido recentemente. E o meu irmão, este gaúcho que também toca, morando nos EUA teve contato com o Phil Kubicki, comprou umas partes lá, uma vez ele me trouxe uma parte eletrônica inteira que eu tava precisando, o cara vendeu pra ele, tinha um contato. E aí ele entrou em contato com a viúva e com o cara que ajudava ele lá e ele ainda tinha alguns pra vender. Aí eu já tava mesmo pensando em comprar, aí pronto. Me ofereceram 5, e tinha este aí, tinham 2 de madeira, e eu gostei e peguei um deles. Aí comecei a tocar com ele também, e ele tem um som diferente.

Ele é um pouco menos grave, ele é um pouco diferente, um é de 86 o outro é de 2013, acho. Então foi intencional, achei que pra primeira parte do show, que na primeira eu faço com este instrumento, a segundo com o antigo, eu acho que é porque pra primeira parte do show, ele tem menos grave, tem mais presença, acho que vai melhor. E o outro é mais “gravoso”, tem mais volume, então eu defini que eu trocaria (risos). Eu geralmente levo dois instrumentos, quando tem um show, sempre levei um de reserva pra se acontecesse alguma coisa, quebrasse uma corda… E assim é bom porque os dois estão sempre em uso, sempre na ativa, qualquer coisa se danifica um, o outro tá ali, pronto pra ação.

Bi Ribeiro, baixista dos Paralamas, em show no Sesc Pompéia
Bi e seu baixo Factor “laranja”, na verdade cor de madeira, usado na primeira parte do show

Bi, a gente conversou sobre todo este trajeto que você fez pra chegar aos instrumentos que usa hoje, e eu tenho uma curiosidade: Você realmente não sabia tocar nada de baixo, não tocava nenhum outro instrumento?

É, eu tinha um violão, tinha um violão e sempre gostei de ouvir música. Então eu tinha o violão e tocava mal e porcamente, gostava de brincar com o instrumento, mas não tocava quase nada. E neste processo aí de a gente vir pro Rio, o Herbert veio em 77, porque o pai dele foi transferido, e eu vim em 78, porque eu queria fazer faculdade aqui, fui fazer veterinária na Universidade Rural do Rio. Eu acabei fazendo Zootecnia, mas na própria Universidade Rural. E quando o Herbert veio pra cá em 77, a gente era muito amigo, e de vez em quando eu vinha, porque minha família sempre foi do Rio.

A gente se encontrava e ele, sabendo que eu ia pra Europa, falou poxa, traz um baixo lá pra gente tocar, cara, a gente não tem amigo aqui, não tem nada pra fazer…  Engraçado dizer que não tem nada pra fazer no Rio, mas quando a gente chegou ali adolescente foi difícil fazer amizade, sabe? Então ele falou Traz um baixo, pra gente tocar junto, pelo menos a gente fica junto, faz alguma coisa. Eu já gostava de música mesmo, tava entusiasmado, me empolguei e trouxe o baixo, e a gente começou a tocar.

E o Herbert foi muito meu professor, olha, como é que é esta música, vamos tocar, tocávamos uma por uma, como que é esta harmonia? Me ensinava a linha e eu ia reproduzindo do jeito que eu conseguia, e o início foi assim, sem bateria, só eu e ele. Isso me ajudou muito no tempo, também. E assim eu fui, comecei a tirar músicas de discos, o Herbert me passava umas escalas… e aí fui aprendendo tocando.

E quando entrou o João, a coisa amalgamou, como diz o Jorge Mautner, aí a coisa amalgamou de uma forma… E eu me vi com dois caras virtuosos, os caras tocam pra caramba, me vi forçado a dar mais de mim, me esforçar mais, tava amarrado dos dois lados, os dois tocam muito, sabem muito de música, sabem muito de tempo, é uma coisa muito forte nos Paralamas, né, o tempo das músicas… E aí continuei no meu aprendizado.

Você chegou a ter algum professor formal, ou foi sempre assim meio auto-didata?

Aí quando eu cheguei no Rio, naquele ano de 78 que eu passei, eu tive umas aulas de violão clássico. Seis meses. Mas me encheu o saco (risos) porque queria me ensinar… eu queria tocar, né? E ele veio com teoria… que é muito interessante, você aprender a teoria musical, algumas escalas, mas eu queria tocar, pra mim tava muito lento, aí eu dispensei. Mais tarde, depois do Rock in Rio, acho, eu também tive umas aulas com um uruguaio, que morava aqui no Rio, de baixo. Mas foi muito pouco, também. Pouca coisa formal, de educação formal.

Acho sensacional, muita gente te considera o melhor baixista do rock brasileiro, eu inclusive, e você declara não ter este preparo formal. Então conta um pouco sobre como você pensa a criação das linhas de baixo.

Já teve várias coisas. O Herbert já chegou com linha de baixo pronta e dali eu desenvolvi alguma coisa… No começo também, eu não sabia tocar muito, então eu ia pelo mais simples (risos)… Tem influência do reggae, que é um baixo melódico, que preenche um espaço danado, e eu tenho esta referência muito grande na minha música, no reggae, meu ídolo maior é o Robbie Shakespeare, que é um jamaicano, pra mim o maior baixista do mundo, então quando eu ouço uma música eu penso nele, como é que esse cara faria se ele fosse tocar esta música. É isso aí. É isso aí mesmo, é escancaradamente influenciado.

Aí é claro, eu gosto de outras coisas, que o Robbie Shakespeare nem conhece… Eu gosto muito de música africana, os baixistas africanos são geniais, muito originais, eu gosto do rock’n’roll, John Paul Jones, então misturando isso tudo aí, vai dar no meu estilo. E quando eu pego uma música, eu vou pelo que a música pede, eu acho que o baixo também tem que exercer a função que é designada a ele. Então muita gente sai viajando demais, querendo mostrar serviço, e você tem que ver o que a música pede. Que é pra ajudar ela da melhor forma possível. Assim que eu penso.

Bi Ribeiro e Herbert Viana em show no Sesc Pompéia, em São Paulo
Bi com Herbert ao fundo, em show no Sesc Pompéia – São Paulo

Uma das minhas linhas preferidas, que acho mais geniais, é a de Romance Ideal. Você lembra mais ou menos como ela surgiu?

É, poxa, esta música, a gravação final… É curioso, porque pro (disco) O Passo do Lui a gente fez uma espécie de uma demo, pra gravar o disco, no próprio estúdio em que a gente já estava. A gente gravou todos de uma vez, acho que pra mostrar pro produtor, sabe? Olha, as músicas são assim. Gravamos tudo de uma vez. Depois, a gente foi regravando uma por uma. Quando chegou na Romance Ideal, a gente não conseguia fazer melhor, do que tá ali no disco, porque esta versão aí que é a versão da demo.

Caramba!

Então, é aquela bateria que a gente fez, aquele baixo… Agora, a linha nasceu, a intenção daquela música, era parecer… a referência dela era The Smiths. Ainda que não pareça. Não parece, mas ela nasceu assim. E os Smiths não tem este baixo assim, eu não sei porque que eu inventei isso aí (risos). Eu realmente não sei. Mas o Herbert veio com esta guitarra que é bem Smithiana mesmo, bem Chan-chan (imita uns acordes com a boca), e eu saí meio que solando ali (risos), e virou a linha de baixo, é um baixo mais solto, não tem uma linha definida, é uma das linhas menos definidas, cada dia eu toco de um jeito.

Eu já sabia que você era bastante influenciado pelo Robbie Shakespeare. Mas e quanto a Police? Esta banda é uma referência bastante evidente no som do Herbert e do Barone, mas o Sting também é referência pra vc?

Absolutamente, absolutamente sim, porque é uma das bandas que, depois da nossa influência primeira, que foram as bandas dos anos 60, 70, Led Zeppelin, Jimi Hendrix, Eric Clapton, Cream, estas coisas, quando a gente começou a ouvir o Punk, que foi uma coisa assim muito revolucionária, mas a gente não se apegou a nenhuma das bandas punks especificamente. A não ser o Clash, que não era uma banda punk, apenas. Era muito mais que isso. E aí a gente foi mais pra depois do punk, The Jam, The Clash, Police, Andrew Smith, Specials, bandas que tinham esta influência de reggae, também.

E o Police, claro, tem muita influência do reggae também. Eles usam muito, principalmente o Copeland (Stewart Copeland, baterista), e o Sting, absolutamente sim, ele é um cara que tem umas linhas muito precisas, simples e objetivas, fazem a função maravilhosamente… e claro que sim, ouvi muito, e tem o negócio do tempo, aquele tempo quebrado, que eu acho que o Sting é um gênio pra tocar aquelas linhas de baixo e cantar, porque é difícil, cara (risos). É difícil, é quebrado, é uns tempos diferentes, pra você cantar e tocar aquilo ali é difícil.

Será que daria pra afirmar que o Sting, tendo estas influências do reggae, também teria ouvido Shakespeare?

Acho que não, eu não vejo isso, não. Mas quem sabe, é possível… Mas eu acho que não, é diferente.

E quais seriam as referência de reggae do Sting no baixo?

É difícil, porque realmente ele não toca o reggae, eles usam o reggae, as batidas, a simplicidade, os tempos, eles usam, então não dá pra dizer explicitamente. Eu não consigo dizer o quê que o cara ouvia ouvindo o que ele faz, neste caso do Police. Ele é jazzista, o Sting, pra começar… o que ele sabe de reggae é uma coisa genérica, eu imagino. E na Inglaterra durante muito tempo tocou-se muito reggae, os jamaicanos foram morar na Inglaterra, nos anos 60. Então tocava na rádio, tocava por aí, então eu imagino que ele tenha uma influência genérica. Ele entendeu o quê que é, mas não acredito que ele tenha algum artista predileto (no reggae), não imagino isso.

Interessante. Pra terminar esta parte mais técnica, mais ligada ao instrumento, eu queria saber o seguinte: Quando você fala desta influência que recebeu do Shakespeare, que elementos exatamente você percebe ter absorvido da forma que ele toca? E junto com esta pergunta, qual sua maior virtude e maior defeito como baixista?

(Bi dá uma risada meio nervosa) Poxa, é difícil botar isso em palavras, cara… mas eu acho que eu entendi o jeito que ele vê a música, sabe? Enfim, eu entendi de algum jeito, eu entendi do meu jeito o jeito que ele enxerga, que ele encara.

Intuitivo, né?

É, muito intuitivo, é muito simples também ao mesmo tempo, provoca surpresa, instiga, pô, como é que o cara fez este negócio? Tão simples, como é que eu não pensei nisso antes? E eu acho ele genial, não consigo te falar em palavras o quê que eu uso dele, mas muito o som, quero chegar num som parecido com o dele… Eu aprendi a… depois eu vi ele tocando, mas… Ele é foda, eu toco muito com o polegar, mas eu toco só pra baixo, ele toca pra baixo e pra cima com o polegar, como se fosse uma palheta! Aí não dá! (risos). Eu aprendi a tocar com o polegar na excursão de 84, que a gente abriu pro Jimmy Cliff no Brasil, e tinha um baixista que chamava Bertram McLean, que eu não conhecia.

Mas ele era da banda do Jimmy Cliff, e tocava com o polegar! Aquele sonzão, eu falei caramba… e é isso aí, cara. Tem duas coisas, primeiro que tem o som mais abafado. E depois, a constância de um dedo tocando só, é melhor do que dois, é mais reto, mais constante, melhor um dedo só do que dois. Eu sempre achei isso, concluí isso pra mim (risos). Robbie Shakespeare usa bastante o polegar, mas eu nem sei te dizer o que eu aproveito, se é que eu aproveito, mas eu penso na música desta forma. Como é que ele pegaria uma música… porque ele já gravou com tantas pessoas, Mick Jagger, Quincy Jones, e ele sempre puxa um bocado pra ele, ele tem uma personalidade muito grande no que ele faz ali. E sempre jogando pra música, a música sempre cresce se ele tá nela.

Li uma entrevista sua em que você se definia como o conciliador nos Paralamas, e interessante que a função do baixo também é a de conciliar ritmo e harmonia/melodia.

É verdade, é o elo. E realmente aqui nos Paralamas também, em termos de ego, e até performance, personalidade, eu realmente tô sempre ali no meio, ou apaziguando, ou servindo de elo, como a gente está falando, ou aprendendo, mas eu tô ali sempre no meio equilibrando as três partes.

Bi, vocês eram muito novos quando rolou o Rock in Rio (o primeiro, 1985), e vocês encararam aquela multidão sendo considerados o patinho feio do festival…

A zebra!

Conta um pouco do que significou esta experiência pra vocês, o quê vocês pensavam na época…

Poxa, aquilo foi assim… Antes daquele show, a gente nunca tinha tocado pra mais do que 1000, 1500 pessoas, de repente a gente ia fazer show pra 150.000, então a gente ficou muito ansioso, muito ansioso, e a gente pensou o seguinte: Vamos fazer, não vamos inventar muita moda aqui. A gente não tocava com cenário, não tinha nenhum instrumentista além de nós 3, não tinha backing vocal, não tinha nada. A gente falou não vamos inventar nada, não, vamos fazer o que a gente tem feito. A gente andou dois discos ali tocando sem parar, que era o primeiro disco e o Passo do Lui, que era o segundo. Então a gente já vinha na estrada embalado.

Então a gente pegou aquele show que a gente tocou uma semana antes, aqui no subúrbio de Niterói, e fez exatamente igual no Rock in Rio. Porque tava certo, era uma fórmula certa, as pessoas que já conheciam os Paralamas iam ver aquelas músicas que eles esperavam, ÓculosMeu ErroVital e sua Moto… E o formato já tava azeitado, a gente já tinha trocado as música, tirado uma, botado outra, então a gente fez o mesmo show que a gente fez no subúrbio de Niterói no Rock in Rio. E outra coisa foi que muita gente não imaginava o quanto a gente era conhecido aqui no Rio. Então o cara lá de Manaus que veio pra ver o Rock in Rio falou pô, que banda é esta cara, todo mundo cantando as músicas, que diabo?

Mas aqui no Rio a gente já era bastante conhecido, tocava na rádio Fluminense já a uns dois ou três anos, a gente tocava em tudo quanto é biboca aqui, todo mundo conhecia a gente. Mas fora do Rio, nem tanto. Então foi aquela ansiedade danada. Aí o nosso produtor de disco na época, o Marcelo Sussekind, foi com a gente, ele tava lá também fazendo som pra gente, e ele falou: 4 da tarde. Janeiro, né? Faz o seguinte, dá uma corrida no acesso, uns 200 metros, antes de entrar no show, vai e volta, porque aí já gastou um pouco da adrenalina… gasta aquela adrenalina e vocês entram já mais… já gastou um pouquinho, e assim a gente fez, a gente deu um pique de 200 metros pra lá, 200 metros pra cá (risos)… Já entramos suando no palco! (mais risos).

Num dos dias o Barone dá até uma cambalhota ao entrar no palco, né?!

Deu uma cambalhota! Aí foi maravilhoso, foi assim, a gente tava nervoso, tava ansioso, até chegar aquele momento, aí quando começou, tava em casa pô. Tava tocando aquelas coisas que a gente tava cansado de tocar, com a plateia entregue, porque todo mundo já conhecia nossas músicas, grande parte do público já conhecia, o resto foi contagiado, e foi uma maravilha, foi um barato, realmente foi emocionante demais, acabamos o show chorando.

Foram duas noites… (Bi me interrompe):

Eu esqueci de responder uma pergunta. Você me perguntou o que eu acho de melhor e de pior, como é que é mesmo?

Sua maior virtude e maior defeito como baixista.

Maior defeito? Caramba, vamos lá… Da virtude vai ser difícil falar… Mas acho que a virtude seria isso, eu encaro a função do baixo como função do baixo, eu acho que não tem que sair… Quer dizer, claro que tem… na música vale tudo.  Acho que a música ganha muito quando principalmente o baixo exerce a sua função que é marcar a harmonia e, se puder, eu faço questão de fazer, ter uma frase marcante, uma melodia. Acho que esta é a minha virtude, tentar correr atrás disso aí, da música, e de saber usar a função do baixo como baixo. E um defeito? Defeito… Cara… (risos). O defeito sou eu inteiro! (mais risos). O defeito é minha presunção de querer ser baixista nesta banda com dois caras, dois monstros… mas eu consegui.

Baixo Factor de Bi Ribeiro, dono do groove mais marcante do rock brasileiro
Auto-didata, Bi desenvolveu o groove mais marcante do rock brasileiro

Então não é um defeito, é mais uma qualidade!

Uma virtude? (risos). Obrigado… O meu defeito seria , uma coisa até que em algum momento eu defini que eu ia fazer, seria estudar mais, eu deveria estudar mais, saber mais de música e até de técnica. Porém, uma hora eu falei, se eu entrar nessa, eu vou deixar de ser o que eu sou como músico. Porque eu não me considero um músico, eu me considero um Paralama. Eu faço a minha parte na banda, que por acaso é tocar baixo. Então, eu deveria ter mais informação formal, eu acho, estudar mais em casa e procurar saber mais. Mas em um momento eu achei que isso iria me jogar pra trás, me desviar do meu foco principal, sabe?

Tirar a espontaneidade, né?

Exatamente. Eu falei, não, eu acho que eu sou assim e isso aí. Mas eu toco bastante, a gente ensaia, às vezes toda semana, eu tenho outros projetos, toco com outras pessoas, a gente faz show à beça, então tô sempre tocando. Mas é difícil eu parar em casa para estudar. Eventualmente eu pego, eu tenho um baixo-violão aqui comigo, e quando eu ouço uma música que me intriga assim, eu pego o baixo pra tirar a linha, pra eu entender o pensamento do cara. Como o cara pensou isso aqui? Este tipo de coisa, mas não é uma ginástica, um exercício.

A primeira noite foi no último dia da ditadura, e a segunda noite no primeiro dia do início oficial da nova democracia, né?

Exato.

Como foi esta época para os Paralamas, o que vocês sentiam quanto ao processo de redemocratização?

A gente tava meio… como todo mundo, muita gente tava mais engajado que a gente, na certa, mas a gente tava desfrutando daquele momento de abertura, inclusive o nosso surgimento, e da nossa geração, se deve a isso também, né? Porque nos anos mais fechados, não podia ter aglomeração de jovens, não podia ter show de rock, não podia isso, não podia aquilo, não podia não sei o quê, então claro que existiam as bandas, mas ninguém sabia da existência delas. Nem as próprias conheciam umas às outras.

A gente coexistiu com o Barão aqui no Rio e eles não sabiam que a gente existia e a gente não sabia que eles existiam. Em 81, por exemplo. É engraçado isso, né? Então a gente tava desfrutando disso aí, mas mais do que isso a gente foi… Bom, já tinham umas músicas desde o começo que já… a gente até teve uma música censurada. Chamava Solidariedade Não!, que a gente escreveu em homenagem ao Partido Solidariedade Polonês, e parecia uma alusão à ditadura, porque começava assim (entoa um pedaço): Com óculos escuros e medalhas pelo peito/o governante da nação se julga no direito/de tirar de quem trabalha os meios de produção/tirar de quem pensa a liberdade de expressão.

Parecia que a gente tava falando do Figueiredo, que usava sempre óculos escuros, mas era do Jaruzelski (Wojciech Jaruzelski), que era o general polonês, então a gente teve esta música censurada. Desde o começo a gente teve esta lado crítico, político e também social, muitas vezes. Então a gente estava sempre acompanhando e tentando ver como é que as coisas iam se desenrolar, mas a gente pouco fez na prática, além das músicas, e tal, a gente estava mais acompanhando, mesmo.

No ano passado, completaram-se 30 anos de lançamento do Selvagem, e em 2017 completam-se do 30 do lançamento do D. Sei que são bem diferentes, porque Selvagem é o terceiro trabalho de estúdio, e D, o primeiro ao vivo, gravado em Montreux. Mas fale um pouco sobre estes dois discos clássicos da discografia paralâmica e do rock nacional, e da importância deles pra você.

Estes dois discos são muito meus, sabe? Tem um dedo muito grande meu ali, uma mão forte. O Selvagem puxou muito pro lado do reggae que é a música que eu pessoalmente trazia pra banda, eu ouvia muito e carregava aquele sisteminha portátil de som, um estéreo, grande, com pilha, e eu carregava pra todo canto, com o reggae, que a gente ouvia muito, então musicalmente o Selvagem é muito influência minha ali. E a gente fez juntos, eu e o Herbert, a maioria das composições, e foi um disco que foi assim, todo mundo, principalmente a gravadora, esperava que a gente fizesse depois do Passo do Lui, uma sequência daquele disco pop, assim como o Lulu Santos fazia, lançava um disco, o seguinte era como se fosse a continuação, e assim por diante, numa sequência de discos pop.

Neste a gente cismou que não iria fazer uma sequência, e pegou estas influências de coisas africanas, das batidas e levadas, e fomos experimentar, falamos “não, não vamos fazer a mesma coisa de jeito nenhum, vamos inventar o que a gente pode fazer aqui com isso que a gente tem”,  e acabou surgindo isso, é um disco bastante experimental. As músicas acabam em fade, assim como se elas estivesse propondo alguma coisa, e foi surpreendentemente até então o nosso disco mais bem sucedido, vendeu pra caramba, vendeu 500.000, a gente foi disco de ouro… Foi tudo. Mas é isso, e aí a gente mudou a nossa cara. Que dizer, mudou, demos um passo adiante da coisa pop. E o disco D é totalmente em cima do Selvagem, é a sequência disso.

E a gente neste momento também assistiu um show do Sly and Robbie, na Inglaterra com alguns cantores, acho que eram 4, Half PintYellowmanIni Kamoze… e mais um, sei lá. Mas aquilo foi um arraso! E aí depois saiu o disco ao vivo, a gente ouvia… Então aquele disco, o D, a gente tava naquele momento Selvagem, que era um negócio de reggae pesado, misturado com o que a gente ouviu lá do Sly and Robbie… e só nós 4! Os 3 e mais o João Fera.

A gente começou a fazer o show do Selvagem e achou que precisava de um tecladista, chamamos o Fera, que está com a gente até hoje, e fomos lá pra Montreux. E foi um show só gravado, não teve playback, não teve nada, é o que tá ali. Inclusive uma música a gente limou porque foi a primeira música do show, que é uma música do João Bosco, Odilê Odilá, tava atravancada, atrapalhando, a gente tirou, ao invés de querer consertar em estúdio.

Impressionante! Imaginar que aquele disco não possui nenhum overdub, acréscimos de estúdio…

Nada, não tem nada! É limpaço… O Liminha gravou, aí veio pra cá e mixou, só isso (risos).

E é muito bacana, porque para muitas bandas, os shows ao vivo não são o foco principal. Os Beatles, por exemplo, na segunda metade da carreira, não se apresentavam mais ao vivo.

É, abriram mão, abriram mão disso.

Mas para os Paralamas, a estrada é parte inerente do pacote, né?

Exatamente. A gente prima muito pelo show, quer dizer, a gente adora gravar disco também, mas a gente sabe que a gente não consegue passar nos discos o que a gente passa numa apresentação ao vivo. A gente sabe disso. Mas a gente gosta muito, a gente tá prestes a gravar o disco novo agora em março, a gente tá super empolgado, tá muito animado, estamos preparando aqui os arranjos e tal. Mas realmente esta parte ao vivo é o nosso forte, a gente tem é uma banda de palco, a gente não para nunca, o nosso lance é este. Então os registros ao vivo realmente são fotografias daqueles momentos que mostram mais o que é a banda do que os LP’s, que são mais ideias a serem seguidas.

E pra este disco que será gravado, as músicas já estão compostas, só faltam os arranjos?

A gente tem 10 músicas, e tem umas em andamento, não sei quantas vão entrar. É, mas o grosso está feito, a gente está há uns dois anos mais ou menos, aos pouquinhos fazendo, no último ano a gente identificou o foco, de se dedicar a estas composições, então a gente se encontrava aqui e ia melhorando, gravando, e aí ocasionalmente aprimorando, e agora a gente tá neste momento vendo os arranjos de teclados e metais das músicas que pedem.

E você diria que estas canções são ideias independentes, ou há um conceito que as une?

Uma linha, né? Acho que nas letras acaba tendo uma unidade sim, porque o Herbert é muito auto-referente, ele não escreve assim pensando numa segunda pessoa, ah, eu amo você, ele não consegue, a não ser que aquilo seja verdade pra ele, então acaba que isso gera uma linha eterna dos Paralamas, sempre uma referência muito grande da cabeça dele, mas musicalmente tem uma variedade grande musical, eu diria. Eu considero que é um pouco mais rock’n’roll que os outros, mas tem outros tipos de música, também. Aí acaba que quando a gente vai… como somos só nós três tocando, mais os nossos três músicos que a gente sempre grava, acaba que tem uma unidade, tem uma cara…

Paralâmica…

Paralâmica! O Herbert fala muito isso, uma roupagem Paralâmica. Mesmo que tiver um funk, ou um reggae, ou um não-sei-o-quê, tem uma cara dos Paralamas ali.

Bi, como você encara as novas tecnologias, a questão das mudanças de mídias, suporte físico e virtual, etc…?

No começo eu acompanhei com urgência, sempre gostei muito de música, de disco, comprava discos compulsivamente. Meu primeiro aparelho de ouvir, foi um amigo nosso, que era técnico do Djavan, que tinha ido para o Japão com o Djavan em 85 e trouxe um walkman pequeno, quase que um “walkman fixo”, e eu comprei. Na hora eu falei “quero comprar”, ele “não, não vou vender”, eu “não, eu quero comprar”, paguei 500 dólares por um walkman. O primeiro que eu vi na vida, eu comprei.

E aí saí comprando CD, então a compulsão que eu tive por LP também tive por CD, sempre consumindo muito. Quando começaram a acabar as mídias físicas, aí eu me atrapalhei um pouco, que eu não sou muito de informática. E eu tinha uma aflição danada com o som comprimido, com o MP3, sabe? Isso pra mim é uma tortura, eu não gosto de ouvir música assim, então continuei ouvindo meus discos e vinis. Neste momento não tô falando de tecnologia de gravação, depois a gente pode falar disso.

E agora, me salvou o Spotify, que tem uma definição muito boa e tem quase que todas as músicas que eu quero ouvir, quase… Então eu tô com o Spotify além de ainda ter minhas coisas funcionando aqui, toca-discos e CD’s, mas eu não diria que sou audiófilo, também não gosto de ouvir música de fone, porque eu gosto que a música participe do ambiente. Tenho um sistema valvulado pra ouvir música que é maravilhoso, bom pra caramba. Então mesmo andando pra frente, eu continuo tradicional.

E nas gravações, cara, nas gravações eu fiquei pra trás, eu não consegui acompanhar. O João tem na casa dele, onde a gente ensaia, num quartinho, a gente tem um sistema Pro-Tools, que ajuda muito nas gravações caseiras ali, o João domina bem, eu não consigo, eu não fui, não sei.

O sorriso e a piscadinha de Bi Ribeiro
Amável, Bi distribui piscadelas para os fãs durante o show

Você falou do ponto de vista de consumidor de música, mas e como artista? Os Paralamas recebem alguma grana destreaming (audição online)?

Recebemos. É, isso é uma coisa muito difícil, de uns 15 anos pra cá, é uma discussão constante, de como ganhar dinheiro com música, como precificar, dar preço a este tipo de arte, já que você pode pegar de graça. E isso é uma coisa que afeta a gente, mas que não muda muito, porque a gente não vai parar de gravar disco, não vai parar de fazer música, nem de tocar, fazer show… Então, diminui o dinheiro que você recebe, sim, mas a gente não vai mudar a vida por causa disso. E acho que as coisas estão melhorando, aos pouquinhos.

O Spotify, por exemplo, tá tentando resolver com os autores e empresas a forma de pagar isso. Mas eles mesmos se dizem deficitários até hoje, mesmo recebendo dinheiro dos usuários, esta conta não fecha. Eles recebem dinheiro de quem usa os serviços e pagam os autores, e diz que isso aí dá prejuízo. Então pode ser uma falta de gerenciamento. Eu acho que a gente não sabe ainda onde é que vai parar isso, não dá pra dizer onde vamos parar, mas eu acho que quem faz música não vai parar de fazer música, quem ouve não vai parar de ouvir, a diferença vai ser o valor que isso vai ter.

Vamos ver o que os anos que virão nos trarão…

Pois é, ninguém sabe (risos). É uma discussão constante entre todo mundo que trabalha na indústria da música, todo mundo que mexe com isso, que vive disso, mas acho que ainda é uma grande incógnita.

Bi, muitíssimo obrigado pela disponibilidade e disposição em bater este papo comigo!

Que é isso, estamos aí.

Escrevi por muitos anos para a Guitar Player e também para a Bass Player, mas a proposta do Não É Só Música é diferente: A ideia é poder falar sobre música sem se ater somente à parte técnica, mas podendo falar de forma mais abrangente, sobre música, arte, história, política, um pouco como fizemos neste papo.

Tá, então deixa eu te falar: Então casou muito bem o que você pretende com o que eu também acredito. Porque por muitos anos me chamaram da Bass Player pra dar entrevista, pra ser capa, e eu não quero fazer isso, eu não acho que eu seja um músico que tenha conselhos a dar pra ninguém, não gosto de me promover assim, não é meu feitio, não é a minha cara. Você sabe disso, acho que você entende isso.

Claro.

Então caiu bem esta entrevista que eu dei pra você, que eu nunca dei pra Bass Player nenhuma, encaixou bem no que você pretende. Porque não é isso, eu não quero enaltecer os meus dotes musicais, eu não tô aqui pra isso, eu trabalho pra música, não é pra ser um instrumentista, não tenho isso no meu ego.

O site tem um pouco menos de um ano, falei também com outras figuras legais do rock brasileiro, Frejat, Nazi, Scandurra… E foi um prazer inenarrável falar contigo, agradeço demais você ser este cara super bacana e ter batido este papo comigo

Gostei mais ainda de saber que é uma coisa pra você, pro seu site, e não pra Bass Player, Guitar Player… (risos). Nada contra, mas acho que todas estas coisas são meio taradas nesta coisa de virtuoso, virtuose, e não é a minha onda, não é o meu lance.

Nem o meu, também (risos). Então valeu Bi, assim que a matéria estiver no ar, mando o link pra você e pra Bebel*! Obrigado!

Falou, cara! Muito obrigado, um abração, tudo de bom!

* Agradecimentos especiais a Bebel Prates, que ajudou a concretizar esta e outras entrevistas realizadas pelo NESM. Beijos Vitálicos, Bebel!

Visite o site oficial dos Paralamas do Sucesso.

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